O leite em pó, a Pais e Filhos e o desserviço

Eu estou enojada, com as mãos geladas e o coração disparado. Tá difícil viver nesse mundo.

Gostaria, por favor, que vocês lessem esse texto:

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Há um ano: Leite em pó
A tal moda de amamentar está me dando fome… E todos os adultos achando que tô chorando por cólica

Estou deixando minha mãe meio apavorada. É porque eu choro muito. E ela continua não entendendo. Vou contar a verdade: Minha mãe está com pouco leite… Acontece nas melhores famílias. Mas como eu nasci no século 21 – em uma família que pode ir ao supermercado – existe uma solução incrível chamada LEITE EM PÓ. Os cientistas – são os homens que inventam as coisas novas – conseguiram inventar um leite bem parecido ao leite da minha mãe, é uma maravilha.

O problema é o de sempre: minha mãe não me ouve. Ela fica achando que eu tô chorando de cólica, e eu tô chorando de fome! Cólica é uma coisa que eles dizem para todos os problemas que a gente tem. Quando não sabe o que é, é só dizer que é cólica! Mas pra vocês entenderem a cólica e o leite em pó vou ter que falar de outro assunto.

Aqui na Terra tem uma coisa chamada “moda”. Todo mundo se influencia por ela. A moda faz as pessoas mudarem de ideia e acreditarem no extremo oposto do que acreditavam antes. É assim, dependendo da moda você logo muda de idéia. A moda depende do lugar, da época e não sei mais do quê, mas serve pra tudo: eu já vi para comida, roupa, educação. Isso só em três semanas, então é seguro que sirva pra mais coisa.

Tô dizendo isso porque aqui onde nasci, no Brasil, está super na moda amamentar! Então a maravilhosa invenção do leite em pó anda malvista… E nem passa pela cabeça da minha mãe – que, infelizmente, se influencia pelo o que pensa a maioria – que eu seria muito mais feliz se ganhasse, depois do peito, um pouquinho de leite em pó.

Tem uma senhora muito simpática que vem quase todo dia aqui em casa. Ainda não entendi porque ela passa tanto tempo aqui – e ninguém me explicou. O nome dela é Maria. Uma visita diferente porque as outras visitam costumam ficar paradas e ela fica de um lado pro outro levando coisas, arrumando, limpando. De vez em quando, ela fala para alguém: “Ah, se a mãe dela saísse um pouquinho, eu bem que dava uma mamadeira bem grande, aposto que esse bebê está chorando de fome”. A Maria, que não liga pra moda, tem boa intuição. Mas nada da minha mamãe sair de casa…

É o problema de sempre… Os adultos basicamente só entendem as palavras. No resto da comunicação eles não vão muito bem.

Ai que fome, quero mais leite e o da minha mãe já acabou… É difícil mesmo essa vida na Terra…

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WTF?

Essa BOSTA foi postada no site da Revista Pais & Filhos. E é claro que eu não vou dar o link (porque é audiência que eles querem) (porque eles já tiraram o post do ar). Mas eu garanto que, ao lado desse artigo, tinha uma propaganda lindinha e colorida de leite em pó rodando e piscando aos olhos de quem quisesse ver (se foi coincidência ou só uma infelicidade, nunca saberemos).

Tem desserviço maior que esse?

Eu nem vou entrar no mérito dos benefícios do leite materno. Todos vocês sabem. Também não vou ficar discutindo esse lance de “moda”. Amamentar nunca foi “moda” nem nunca será. Leite em pó é uma evolução? Claro que é!

Quem me acompanha por aqui nestes 5 anos de blog, sabe que eu tive uma depressão pós-parto fudida. Cada vez que o João vinha mamar, eu queria jogá-lo pela janela (de verdade). Foram os 15 dias mais longos da minha vida. Precisei, sim, das fórmulas. E ainda bem que elas existem. Mas, mano… Juro que tô em choque.

Porém, um tema como esse precisa ser tratado com todo o cuidado pelos veículos de comunicação. Se esse conteúdo tivesse passado pelas mãos das editoras e elas tivessem refletido sobre os seus riscos, duvido que tivesse sido publicado. Será que alguém leu antes? Será que leram e a intenção era gerar polêmica? E gerar polêmica a que custo? Será que foi conteúdo publicitário disfarçado de texto? As teorias conspiratórias não param de pipocar.

É por essas e outras que eu fui desistindo de trabalhar em redação…

Mães, amamentem sempre que possível. E não se culpem se não puderem, tá?! Tem amor no coração pra todo mundo.